quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

CAMPUS DE VARGINHA DA UNIFAL SEDIA DEBATE SOBRE PRIVATIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE PÚBLICA

“Não sei como um planejador pode planejar estrategicamente sem considerar os aspectos de disciplinas como Sociologia, Antropologia, Ciência Política, dentre outras, num país onde 40% da economia é pública-estatal?"

Debate foi mediado pela professora do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da UNIFAL-MG, Elisa Zwick

A palestra do professor Claudio Gurgel, da Universidade Federal Fluminense (UFF), realizada na última quinta-feira, 3, no Campus Avançado de Varginha da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), refletiu o caminho de privatização das universidades públicas brasileiras. 

A privatização tem recebido reforços com a recente aprovação, pela Câmara dos Deputados, da Proposta de Emenda Constitucional nº 395, que altera a redação do inciso IV do artigo 206 da Constituição Federal, modificando o caráter de gratuidade do ensino público.

Para Gurgel, a questão é preocupante à medida que o conhecimento produzido na sociedade representa um acúmulo histórico, sendo um produto social ao qual é garantido o acesso na universidade pública. 

Isto somente é mantido quando preservado seu caráter público, visto que a sociedade que cria determinado conhecimento preserva sua disseminação independentemente de critérios de seleção econômicos como fator de acesso a esse conhecimento.

Referindo vários estudiosos e trazendo um histórico da crise do capitalismo mundial na década de 1970, da chegada das novas tecnologias da produção flexível que levaram à “obsolescência planejada acelerada”, Gurgel destacou que a educação, mesmo a pública, tem sido tratada cada vez mais nos níveis de empresa.

Numa realidade em que, na perspectiva mais otimista, o Brasil possui no máximo 19% da população com acesso ao ensino superior e menos de 12% de pessoas com título de graduação, a educação situa-se como uma das áreas de negócios mais atraentes no país. 

Faz-se presente na atualidade um movimento no sentido de privatizar a universidade pública em três dimensões, assim destacadas por Gurgel.

"O ensino: na graduação o aluno termina a sua formação devendo, enquanto que as pós-graduações de nível lato sensu são tratadas como complemento da remuneração dos docentes da universidade pública e da receita própria dessas instituições. É o que vem sendo pleiteado pela Emenda Constitucional nº 395, que apenas legalizará o que já tem acontecido".

"As pesquisas: um grande número é realizado com contratos com as empresas privadas. Nesse sentido Gurgel indaga: se somos universidade pública, o que fazer com uma consultoria para empresa privada? Tais contratações nem sempre viabilizam a publicização dos dados das pesquisas. Além disso, há um pernicioso enfoque no empreendedorismo acadêmico, que direciona os interesses de pesquisa a publicações numa instituição que teria como propósito constituir conhecimentos à sociedade".

"A formação para o mercado: quaisquer conteúdos que não sejam úteis ao mercado são eliminados da formação dos estudantes, o que tem adquirido uma proporção non sense. Gurgel indaga sobre os cursos de graduação em Administração: “não sei como um planejador pode planejar estrategicamente sem considerar os aspectos de disciplinas como Sociologia, Antropologia, Ciência Política, dentre outras, num país onde 40% da economia é pública-estatal?".

O professor Claudio Gurgel finalizou colocando a preocupação de que não apenas a educação e o conhecimento a ser produzido nas próximas gerações passou a ser redirecionado, como também o próprio ensino, ao sofrer o mesmo histórico de mercadorização da indústria: “vivemos um processo avançado de privatização da universidade pública e, aliado a isso, temos uma noção limitada e empobrecida de que nós estamos sendo formados para o mercado”.

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